Instituto Pensar - Brasil despenca no ranking mundial de investimentos

Brasil despenca no ranking mundial de investimentos

por: Ana Paula Siqueira 


Foto: Reprodução

O Brasil despencou no ranking global de investimentos. Com uma contração recorde de 62% na atração de investimentos, o país caiu da 6ª posição para a 11ª entre os principais destinos de investimentos do mundo, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Para a entidade, é o reflexo da falta de medidas sociais de controle do coronavírus aliada às incertezas sobre os destinos econômicos e políticos. Os investimentos externos no país voltaram aos patamares de 20 anos atrás. Com isso, o México assumiu a liderança na América Latina.

Além disso, empresas brasileiras ainda encolheram no exterior e a projeção é de que recuperação dos fluxos apenas ocorra em 2023. Em 2019, a economia brasileira era a sexta no ranking da ONU de atração de investimentos no mundo, anúncio que chegou a ser comemorado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em suas redes sociais. Mas no ano seguinte, perdeu até mesmo a liderança na América Latina. As informações são do jornalista Jamil Chade, do Uol.

Em 2012, o Brasil chegou a ser colocado pela Conferência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) como o terceiro país mais citado por multinacionais como destino preferido de investimentos. A partir de 2010, a economia nacional variou entre a quarta e quinta maior receptora de investimentos do mundo, situação que começou a mudar em 2019 e agora se aprofundou num colapso ainda maior.

Pandemia e incerteza política afastam investidores

Para 2021 e 2022, a projeção da ONU é de que a incerteza política e a crise sanitária podem perpetuar um baixo nível de investimentos no país. As estimativas avaliam que o atual ano pode registrar uma variação entre -5% e +5% no fluxo ao país.

Dados publicados nesta segunda-feira (21) pela Unctad revelam que o Brasil recebeu US$ 24,8 bilhões em investimentos diretos em 2020, contra US$ 65 bilhões um ano antes, uma queda de 62%. Com o resultado, o Brasil perdeu espaço e foi superado por Suécia, Alemanha, Índia e Luxemburgo e, na América Latina, foi ultrapassado pelo México.

"Experimentando tanto a maior incidência de casos e mortes da covid-19 na região quanto uma severa contração econômica, o Brasil adotou medidas suaves de contenção da mobilidade da população e implementou transferências fiscais destinadas à população vulnerável?, disse. Isso, segundo a ONU, atenuou a contração do PIB.

Privatizações

O Brasil ainda foi citado como um "exemplo? de um país que viu seu projeto de privatização afetado pela pandemia. "A crise da covid-19 desacelerou os programas de privatização em andamento devido à elevada incerteza e à menor demanda do mercado. Por exemplo, os programas no Brasil e no Vietnã sofreram retrocessos?, disse.

"O Brasil lançou seu programa de privatizações no final de 2018 com a expectativa de reduzir o número de empresas públicas de 134 para 12. Durante 2020, apenas duas privatizações foram concluídas?, constatou.

A ONU aponta que o programa de privatização está previsto para ser reformulado em 2021. Apesar da situação complicada em 2020, a ONU estima que existe um "interesse contínuo dos investidores estrangeiros em investir em energia renovável no país?.

Queda de fluxos

Os dados revelam ainda uma queda de fluxos de 37% para o setor de serviços, refletindo uma redução do investimento estrangeiro em serviços de eletricidade e gás (-62%), comércio (-33%), serviços financeiros (-68%) e transporte e logística (-90%).

Em contraste, o setor de seguros registrou um aumento sem precedentes de investimentos, depois que a CNP Assurances (França) adquiriu a carteira de seguros da Caixa por US$ 1,9 bilhão. Mas, no setor de petróleo, a queda foi de quase 60%. A queda não foi maior por conta das privatizações.

A Petrobras fechou um acordo com a Trident Energy Management (Reino Unido), que adquiriu uma participação de 52% da Enchova & Pampo Oil Hubs por um valor estimado em US$ 1,1 bilhão. A Karoon Energy (Austrália) comprou um campo de petróleo por um valor estimado em US$ 665 milhões.

América Latina tem o pior desempenho

A crise brasileira influenciou o resto do continente latino-americano. A região registrou uma contração de 45% no fluxo de investimentos, somando US$ 88 bilhões. O declínio foi o mais acentuado entre as regiões em desenvolvimento. "O continente sofreu a maior taxa de mortalidade COVID-19 do mundo até hoje, e suas economias enfrentaram um colapso na demanda de exportação, uma queda nos preços das commodities e o desaparecimento do turismo?, constata a entidade.

A ONU admite que, para os exportadores de minerais e metais, a queda foi parcialmente amortecida pela recuperação relativamente rápida dos preços das commodities durante o segundo semestre do ano.

Empresas brasileiras perdem espaço no exterior

Com problemas de caixa, empresas brasileiras repatriaram recursos de suas subsidiárias no exterior. "O colapso foi causado principalmente pelas saídas em grande parte negativas de empresas brasileiras (- US$26 bilhões), que continuaram a buscar fundos através de suas subsidiárias no exterior?, disse a ONU.

No total, multinacionais latino-americanas repatriaram US$ 50 bilhões neste período. O resultado foi parcialmente compensado pelas empresas chilenas, que aumentaram as saídas de capital em 25% para US$12 bilhões. As empresas mexicanas também aumentaram os investimentos no exterior. "De modo geral, o Chile, a Colômbia e o México geraram quase todos os investimentos externos da América Latina?, afirma a entidade.

Ásia recebe metade de todos os investimentos

Apesar da queda da economia global em 2020 por conta da pandemia, nem todos os países sofreram uma retração da mesma proporção do Brasil. O país também destoou da média dos emergentes, que viram uma retração de apenas 8% nos investimentos.

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A Ásia, que primeiro se recuperou da covid-19, chegou a registrar uma alta de 4% no fluxo e hoje representa 50% de todo o destino de investimentos. Para 2021, a previsão do informe é de que haverá uma leve recuperação no fluxo global, entre 10 e 15%. O ranking é liderado pelos EUA, seguido por China, Hong Kong, Cingapura e Índia. Tanto Pequim como Nova Déli registraram uma alta no fluxo de investimentos nesse período.

Estagnação e retorno apenas em 2023

A ONU acredita que a recuperação latino-americana não será fácil. "Em 2021, espera-se que os investimentos externos para a região permaneçam estagnados, desafiado por muitos riscos negativos, incluindo incertezas econômicas e políticas?, diz. Para 2021, o fluxo ficará abaixo do aumento médio esperado para as economias em desenvolvimento como um todo.

"Mesmo assumindo que as condições fiscais e monetárias continuem a acomodar a recuperação econômica e que as campanhas de vacinação façam progressos rápidos, não se espera que o investimento externo se recupere a seu nível pré-crise antes de 2023?, alerta a ONU.

Para o ano, espera-se que o PIB real cresça a um a um ritmo de 4,4% na América do Sul, abaixo da recuperação de 6,7% esperada nos países emergentes e em desenvolvimento. "A América Latina é severamente afetada pela crise da covid-19, e sua recuperação pode ficar atrás da de outras regiões?, constata a ONU.

"As medidas de estímulo fiscal nos Estados Unidos devem dar algum impulso à região mais ampla através do comércio e das remessas, mas a incerteza política é alta, com eleições gerais programadas para 2021 e 2022 em várias das principais economias receptoras de IDE (incluindo Chile, Colômbia e Brasil)?, completa.

Com informações do Uol



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